terça-feira, 11 de agosto de 2009


Venho contar-lhe, Doutora, a última que o meu marido fez. Ele foi-se,matou-se.

Até para morrer foi mau, sabe.
Enforcou-se em casa. Foram as minhas filhas que o encontraram.
Ao menos deixou umas letrinhas. Dizia que sabia que nos tinha feito sofrer. Dizia também que por isso sofria.
Isto tudo deixou-nos muito atrofiadas, percebe não percebe?
Estava mentalizada para ser uma mulher divorciada, e agora sou uma viúva!
Não bastava a doença que ele me deu, ainda tive que ser eu e a minha filha mais velha a tratar do funeral.
A minha doença está mais ou menos controlada. Vou todos os meses ao médico, mas sabe como é, não é para melhoras.
Foram 32 anos juntos, com muita dor, e que aguentei pelas minhas filhas por não saber que conseguiria viver sozinha com elas.
A última vez que ele me bateu foi há 10 anos e ainda sinto a dor no braço. Toda a vida teve mulheres, toda a vida levou infecções para casa. Aguentei todo, mas quando soube que me tinha passado a Sida achei que era demais. Nunca pensei que um dia o ia deixar. Acho que sempre foi ingénua e acreditei que ele iria mudar.
Quando soube da doença percebi que afinal já nada valia apena.
Agora, ele foi-se e eu fiquei com a pior marca que ele me podia deixar.

3 comentários:

  1. é com muito prazer, irmã, que deixo a aqui o primeiro comentário ; )

    Parabéns pela ideia do blog. Como esta história deves conhecer muitas outras, imagino...Esta é forte. Vou ficar atento às próximas ; )

    Beijinho grande e até já...

    Ps: A vida é assim, mas quando é assim, à que mudar de vida ; )

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  2. Parabéns pelo blog.
    Este relato é fantástico. São estas histórias do quotidiano que nos fazem repensar a vida e que nos dão coragem para recomeçar enquanto ainda é tempo!

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